As pessoa acreditam num Deus sinistro. As pessoas criaram um Deus sinistro. Um Deus que tem preferência entre pessoas, afinal, parece-nos que atende às preces de uns, mas que se esquece completamente das preces de outros. Mas também fica a saber que se Deus não atendeu ao teu pedido, é porque não soubeste pedir. Pelos vistos, Deus também tem preferência pela nossa forma de orar. Ah! E Deus também tem preferências pelo género. Ambos existem, mas segundo se conta a mulher nasceu da costela do homem. E só porque o homem, que já estava no paraíso, se sentiu só. Se não se sentisse sozinho, a mulher era desnecessária.
As pessoas criaram um Deus temperamental, que tem de ser agradado senão fica descontente e sabe-se lá o que acontece. Ainda nos castiga se estiver para aí virado. Mas se estiver de bom humor também pode perdoar o «imperdoável».
As pessoas criaram um Deus que tem necessidades e desejos. E que pode falhar! Por isso, fazemos todos sacrifícios ou, uma palavra mais leve, promessas. Deus precisa realmente que andemos de joelhos durante uns bons metros ou que deixemos de comer determinados alimentos. Como Deus pode falhar (nunca se sabe!) prometemos que se o nosso filho nascer saudável que peregrinamos até ao outro canto do mundo. Oferecemos então algo a Deus (porque ele tem as suas necessidades, claro) em troca de um favor ou da sua graça. E se Deus não cumpriu com a sua parte, então a tua promessa não foi tentadora o suficiente. Sabes como é, o humor de Deus muda e os seus desejos e preferências também. E é que tal como nós, Deus também precisa de casa. Por isso, é que temos os templos ou igrejas. É lá que gosta de estar e de se fazer ouvir. Através de mensageiros ou intermediários escolhidos a dedo. Aqueles que não foram escolhidos têm de se sujeitar aos que foram.
Ah! E também temos de cumprir todos uns rituais determinados como ir à eucaristia, rezar aquelas orações específicas, confessar os nossos pecados (e todos somos pecadores!)… tudo para ficarmos bem vistos aos olhos de Deus. E ele vê tudo e é um perito em julgar-nos. Deus tem uma lista enorme onde indica o que é certo e o que é errado. Aqui na Terra basta seguir os mandamentos dele, mesmo sem refletir sobre os mesmos. Também não é importante, basta segui-los e pronto: temos uma passagem direta para o Céu. Sim, porque Deus é amor, mas pode mandar-nos para outro lugar que não o Céu. Nem todos somos dignos desse amor, afinal.
E Deus, por vezes, realiza alguns milagres. Mas só são milagres se aconteceram como queríamos que acontecessem. Rezamos para que aquela pessoa se cure daquela doença terminal. Se acontecer, falamos de Deus, agradecemos a Deus e partilhamos com os nossos familiares e amigos o milagre. Se não acontecer, é melhor nem falar em Deus. O silêncio parece a melhor opção. Aí, a morte não pode ser uma cura nem um milagre.
As pessoas criaram um Deus que está separado delas mesmas. E isso é a maior ilusão possível. Acreditar que Deus é algo ou alguém separado é eliminar completamente qualquer possibilidade de vivenciar Deus em nós. Assim, não há como experimentar a Unidade Divina nem como abraçar plenamente a Realização Espiritual. Isso significa que seremos sempre insatisfeitos, cheios de expectativas, donos da verdade (e dizemos abertamente, cheios de convicção, que não devia ter sido daquela forma ou que devia ser de outra maneira) e da vida dos outros, preocupados com as situações do mundo (porque não está tudo na mais perfeita ordem e Deus pode cometer erros) e doentes, física, emocional e mentalmente. Isto enquanto não vivermos completamente em piloto automático, distantes de tudo e todos, sem que nos apercebamos.
Precisamos urgentemente de acordar! Um Deus criado pelo Homem será um Deus semelhante ao Homem. Ao ego do Homem. Na verdade, a palavra Deus pode ser substituída por Natureza, Universo ou Amor. Parece que, apenas com esta mudança de terminologia, tudo muda. Já não há «alguém» com vontades, desejos, necessidades e estados de humor.
Mas há uma palavra, apenas uma palavra, que substitui Deus na perfeição: realidade. A realidade é aquilo que é. E aquilo que é é, e sempre será, omnipresente, omnipotente e omnisciente. Não há como lutar com a realidade. E quando tentamos, sofremos. Somos nós que causamos o sofrimento sempre que não aceitamos aquilo que é, tal como é. Deus é a realidade e a realidade é tudo o que tivemos, temos e teremos. Nada mais.
E atenção, porque aquilo que é não tem absolutamente nada a ver com aquilo que pensamos que é.
Como é que eu sei que algo devia acontecer? Porque aconteceu.
Como é que eu sei que verdadeiramente não preciso de algo? Não tendo esse algo.
Como é que eu sei como é que as coisas deviam ser? Quando elas o são.
2 Responses
Tão bom minha querida, obrigado 🤍
Wow cada palavra tua bateu forte, faz tanto sentido… está tudo tão certo, tão no lugar…
Que reflexão!!! ✨🌻💛